terça-feira, 29 de janeiro de 2013

FEMUSC e seus bastidores.




No ensaio da Filarmônica de Jaraguá do Sul/SCAR do dia 09 de novembro de 2012 os músicos foram informados da temporada 2013. A princípio 10 concertos agendados, sendo 5 com orquestra completa e 5 com grupo reduzido.

Outro concerto importante, segundo o presidente da Orquestra Filarmônica de Jaraguá do Sul, Gilmar Moretti, era a abertura do 8° Festival de Música de Santa Catarina – FEMUSC, no dia 20 de janeiro.

Vou fazer uma rápida revisão do que aconteceu “musicalmente” falando em Jaraguá do Sul, referente à música sinfônica, no ano de 2012.

Entre janeiro e fevereiro tivemos dezenas de concertos sinfônicos graças ao FEMUSC. Logo em seguida a Filarmônica de Jaraguá do Sul fez uma mini-turnê com 3 apresentações (Pomerode, Blumenau e Jaraguá), 24, 25 e 26 de fevereiro respectivamente.

Depois disso a orquestra voltou só em 11 de novembro com um concerto na SCAR e depois no Auto de Natal, realizado dia 9 de dezembro também na SCAR. Em todas as apresentações os músicos receberam cachê.

Foram exatamente 5 apresentações com orquestra completa, o mesmo número do próximo ano. Com a abertura do FEMUSC seriam 6, mas a seguir vou explicar porque esse concerto não conta.

Em 2012 tivemos um hiato de 8 meses sem música sinfônica. E olha que Jaraguá é a terra do FEMUSC. Do mundo todo para o mundo da música, ao menos é o que aparece no folder de divulgação.

Um concerto para duas harpas e orquestra foi apresentado. No concerto da Filarmônica do dia 10 de novembro havia uma parte para harpa na Suíte Carmen de Bizet. A SCAR/Instituto FEMUSC tem harpas, 17 se não me engano, mas justo naquele dia não havia harpista.  Acompanhar uma orquestra, recebendo cachê não parece ser muito atrativo.

Agora a orquestra acompanhou as harpas, e... sem cachê! Sim, esse foi o convite que recebi, 4 ensaios e o concerto de abertura do FEMUSC com orquestra grátis.

Analisando friamente é cômico, um projeto com orçamento superior a 2,4 milhões de reais e simplesmente não foi planejado a abertura do festival. Já falaram em maior festival escola do mundo e outras frases de efeito, mas e daí? O que fica para Jaraguá após o FEMUSC?

Ninguém do Instituto FEMUSC teve a presença de espírito para remanejar algum dos valores do projeto. Há centenas de banners, folders e cartazes espalhados pela cidade. Será que uma parte desse valor não poderia ser utilizada para o pagamento da orquestra responsável pela abertura?

O que devo pensar de um festival que o foco é o músico sendo que o próprio festival não valoriza o que Jaraguá do Sul oferece?

Quero aproveitar para analisar também o seguinte:

O que a Filarmônica evoluiu desde o primeiro FEMUSC até 2013? Vários músicos saíram de Jaraguá. Temos músicos que começaram tocando na orquestra daqui e hoje estão morando em Itajaí, Curitiba, São Paulo, e até nos Estados Unidos. Todos estudando e vivendo da música.

Um projeto para iniciar uma orquestra “do zero” aqui em Jaraguá do Sul já andou por algumas empresas em busca da captação. Projeto longo e com um orçamento milionário.

Quer dizer que, para a “elite” do FEMUSC, é preferível começar uma orquestra do zero a investir na Filarmônica de Jaraguá do Sul? Ao menos foi isso que me passou pela cabeça quando soube dessa história.

Fui estudar no Rio Grande do Sul com a esperança que esse prédio novo da SCAR fosse utilizado para trabalhos sociais sérios, não apenas o social recreativo.

Esperava algo próximo do que acontece hoje com o projeto GURI/Santa Marcelina em São Paulo, ou sonhando mais alto, o El Sistema na Venezuela.

Aqui em Jaraguá ainda existe o discurso: se as criancinhas não estivessem ali brincando de aprender elas estariam na rua fumando crack. Como se a natureza do ser humano fosse o consumo de drogas.

Um teatro “sério” tem uma orquestra fixa, com uma programação anual para manter a comunidade entretida e principalmente formar plateia. Com 8 meses de hibernação é possível formar plateia?

Santa Catarina não possui uma orquestra sinfônica séria. Outros grupos estão surgindo e pelo jeito a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina vai cair no esquecimento. Aliás, ela é motivo de piada, se cair no esquecimento será melhor.

O interessante é que após esses 8 meses o concerto da Filarmônica teve um público maior do que muitos concertos do FEMUSC, que na sua maioria é frequentado pelos alunos.

Enfim, se a participação da Filarmônica na abertura do primeiro FEMUSC era para ter algum tipo de retorno, analisando agora, 8 anos depois, claramente não teve.

Prova maior do que essa de ser convocado para tocar sem cachê não há. Nem o FEMUSC valoriza a Filarmônica. Será que nas outras aberturas o pessoal também tocou sem cachê? Alguns sim, todos não!

Chega a ser uma falta de respeito, não só com os músicos da orquestra, mas com a cidade também.

Lembrando que esse projeto do FEMUSC passou por outras cidades e estados e finalmente foi “abraçado” em SC. Coisas do ex-governador Luís Henrique.

Acredito que o dia que a “elite” do FEMUSC não achar mais interessante continuar por aqui ou receber uma proposta melhor de outro estado, não sentirão remorsos em se soltar do abraço.

Obs.: Foi avisado ano passado que o concerto de abertura do FEMUSC não seria pago, sendo esse o motivo de eu não tocar com a Filarmônica de Jaraguá do Sul, muito menos no festival.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

2,4 milhões



Esse será o valor investido, segundo o jornal Folha SC de 18 de janeiro, na oitava edição do Festival de Música de Santa Catarina.

Soma-se a isso o valor das inscrições dos participantes, que novamente esse ano varia de 500 a 800. A cada dia os jornais divulgam uma quantidade diferente.

Calculando pelo valor mínimo de 500 participantes inscritos, a uma taxa de 400 reais por músico, têm-se 200 mil reais só de inscrições. Montante esse acumulado já no ano passado, afinal a confirmação da inscrição depende do depósito.

Ultrapassa 2,5 milhões de reais.

Comparado ao orçamento de uma OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), aproximadamente 84 milhões de reais por ano, o FEMUSC aparenta ser um festival “barato”.

Pode-se deduzir pelos números que esses 2,5 milhões corresponderiam a uma semana de trabalho da OSESP, dividindo pelas semanas úteis do ano. Aqui em Jaraguá isso corresponde a 2 semanas.

Fala-se em mais de 200 concertos, dividindo 2,5 milhões de reais por 200 temos cada concerto custando em média mais de 10 mil reais.

A reportagem fala em 450 empregos diretos criados na região. Emprego direto e trabalho temporário de duas ou três semanas por um acaso são a mesma coisa? Alguém vai registrar um funcionário com carteira assinada para 3 semanas de trabalho?

Se somarmos esses 450 “empregos” aos 50 professores (estou arredondando e sempre para menos) temos 500 funcionários para 500 alunos. Média boa, 1 funcionário por aluno.

Será que alguma pessoa vai conseguir assistir todos os 200 concertos? Por falta de dinheiro não vai ser porque todos os concertos serão gratuitos, mas haverá tempo hábil para isso?

Não tá na hora do FEMUSC entrar para o Guinness Book pelo maior número de concertos realizados num curto espaço de tempo?

Lembrei dessa notícia aqui:


Ela apresenta alguns números do programa Cultura nos bairros de 2011 e 2012. Os dois parágrafos seguintes me chamaram a atenção:

Em 2012, o programa, que está em sua quarta edição, investiu R$ 70 mil com a aquisição de instrumento musicais, confecção de figurinos, cenários, transporte, camisetas, locações, filmagens, divulgação e edição, envolvendo cerca de 870 alunos de 15 escolas municipais, um centro de educação infantil e o Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas I).

Em 2011, foram 15 as instituições atendidas, das quais 13 escolas municipais, beneficiando 890 crianças e adolescentes, num investimento total de R$ 33.500,00. As aulas de capoeira movimentaram 393 crianças e adolescentes; as de teatro, 210; as da banda estudantil, 150; e as de dança, 145 estudantes.

É interessante que tivemos 1.760 alunos nos dois anos. Claro que muitos alunos de 2011 continuaram em 2012. Mas o que me chamou a atenção mesmo foram os valores.

Nos dois anos do programa foram investidos R$ 103.500,00 (cento e três mil e quinhentos reais). O que dá um valor aproximado de 60 reais por aluno. Um valor bem abaixo do praticado pelas escolas de músicas da cidade. Destaca-se que o programa proporcionava atividades durante meses e se apresentava em datas comemorativas.

Os bairros beneficiados pelo programa eram bairros mais retirados do centro da cidade e o projeto contava com a participação de apenas 4 professores. 870 alunos para 4 professores.

Nessa postagem eu questionei a contratação do professor de música envolvido nesse programa: http://www.ederw.blogspot.com.br/2012/03/projetos-de-incentivo-musica-e-cultura.html

Agora pergunto: Qual a lógica de Jaraguá do Sul investir 150 mil reais num projeto de 2 semanas quando não investe esse valor num projeto de 1 ano? 500 funcionários para atender pessoas do mundo todo em 2 semanas e para o resto do ano apenas 4 professores?

Tudo bem, o pessoal do FEMUSC, digo Alex Klein, tem o mérito de trazer um projeto desse porte para cá. Só que em 8 anos, ninguém em Jaraguá foi capaz de apresentar um projeto semelhante ao Projeto Guri/Santa Marcelina em São Paulo ou El Sistema na Venezuela?

O FEMUSC demonstra claramente, com esses 2,4 milhões de reais, que Santa Catarina e Jaraguá do Sul têm condições de bancar um projeto desse porte.